Este ano não será tão melhor que o anterior, explico os motivos - Bruno de Queiroz
Texto escrito por Bruno de Queiroz - Diretor Executivo da Galeazzi & Associados
Virada de ano e suas perspectivas
As expectativas de mercado para o 1º semestre de 2024 apontam para um cenário ainda sem muitas modificações em relação a 2023. Com relação a juros, a expectativa é que o movimento de queda nas taxas, iniciado no 2º semestre de 2023, continue no mesmo ritmo observado nas últimas reuniões do COPOM. Na esfera da inflação, a expectativa é que não tenhamos nem boas, nem más notícias.
Em outras palavras, continuaremos num nível parecido ao observado em 2023. Não se espera uma grande volatilidade no câmbio, salvo se algum evento não previsto no horizonte se materialize.
Da mesma forma, as expectativas para a atividade econômica também não são promissoras, ou seja, devemos ter um crescimento econômico muito aquém do potencial, embora adequado às condições de mercado existentes, bem como ao ambiente político vigente. Ainda acredito que tenhamos movimentos importantes no mercado de reestruturação de passivos, já que o volume de empresas endividadas ainda é relevante.
Outro ponto importante a observar é o comportamento do endividamento do consumidor, variável que afeta diretamente setores como o varejo e serviços, que já tiveram desempenhos bastante negativos no ano de 2023.
É hora de alinhar a gestão
Sobre o caixa das empresas, acredito que as que tiverem disciplina na gestão do caixa têm maiores probabilidades de conseguir maximizar seus recursos. A efetividade dessa disciplina virá de um controle rígido dos custos e despesas de cada empresa, medida que está integralmente no controle dos gestores.
Planos de investimento devem ser executados com muita cautela e, se possível, realizados com uma parcela maior de capital próprio, uma vez que o custo do capital ainda está bem elevado.
As empresas precisam adotar uma estratégia de austeridade nos gastos e muito “pé no chão” para realizar investimentos. O cenário, embora com uma aparente menor volatilidade, ainda inspira cuidados e cautela.
Na minha visão, ao invés de apostar numa melhora dos resultados e do mercado, os gestores deveriam tomar as decisões após os resultados terem se realizado.
Os conselhos também precisam atuar de forma austera e diligente, cobrando os gestores para a entrega de resultados, conforme os planejamentos orçamentários discutidos e aprovados para o ano de 2024.
Conselhos com formações multidisciplinares, em tese, estarão melhor preparados para lidar com um ambiente de mudança constante.
Penso que as empresas que conseguirem executar uma estratégia austera na gestão do caixa, ou seja, conter os gastos e, ao mesmo tempo, realizar os objetivos estabelecidos no planejamento orçamentário, terão condições de chegar ao final do ano com reserva de caixa e numa condição mais estável para dar saltos maiores.
Olhar atento às variáveis
O ano de 2023, na minha visão, foi um ano que apresentou um saldo muito próximo a zero.
As mudanças que foram implementadas tiveram um caráter muito mais cosmético e midiático do que efetivo. Muitas das reformas tão comentadas ainda necessitam de regulamentação e seus efeitos serão sentidos no longo prazo, dependendo do que for efetivado pelo legislativo.
As últimas experiências não são animadoras.
Adicionalmente, encerramos o ano com decisões do executivo que trazem uma enorme insegurança para as empresas e seus gestores (tratei desse tema num post recente). Um dos exemplos foi a medida provisória alterando a desoneração da folha de pagamento. Portanto, 2024 será um ano para ficarmos atentos aos movimentos do executivo, do legislativo e, principalmente, do judiciário, que deveria ser, em última instância, o fiel da balança.
Agora em 2024, além de todas as variáveis já conhecidas, teremos eleições municipais, fator que traz certa volatilidade, especialmente no 2º semestre quando ocorrem os pleitos.
É importante que as empresas avaliem minuciosamente os planos estratégicos para conseguir superar as adversidades que vierem, pois elas podem chegar com tudo a qualquer momento.