A Recuperação Judicial em 3 tempos
Texto comentado por Luís Felício - Diretor Executivo da Galeazzi & Associados
Tempo # 1
Os problemas que levam à necessidade de uma RJ não acontecem de repente. É um processo que pode levar 3 anos ou mais. Começa com resultados negativos recorrentes, letargia dos executivos/donos, conflitos entre sócios e incapacidade de enfrentar os problemas e tomar as ações que, de fato, podem resolver o problema.
Esta fase termina com grandes problemas de caixa, falta de linhas de crédito, inexistência de mais garantias/avais, títulos em cartório, atrasos de pagamento aos fornecedores. Também se notabiliza pela falta de racionalidade dos gestores/sócios, acreditando em planos que nunca acontecem. Ninguém entra em RJ porque quer!
Tempo # 2
Chegou o momento de contratar os advogados especializados e uma empresa de consultoria para ajudar na RJ. Tudo isso adiciona novos custos, fora o custo do administrador judicial e peritos.
Neste momento, muitos dos empresários ainda acreditam que o simples fato de terem contratado a equipe de assessores, por um passe de mágica, a dívida será reestruturada, esquecendo-se de que deram avais, tem vários ativos com alienação fiduciária e a empresa continua não gerando caixa.
Aqui, temos dois tipos de empresários:
a) os que insistem que é só negociar a dívida e o problema está resolvido, mesmo a empresa não gerando caixa. Esta empresa irá quebrar.
b) os que caem na real e aceitam que tem que ser feito o turnaround na empresa. Até porque no final do dia é a geração de caixa que vai pagar a dívida. Se os credores tiverem sinais de que isto irá acontecer, o turnaround, o trabalho fica mais fácil. Esta empresa tem grande chance de sobreviver e continuar operando.
Tempo # 3
Plano aprovado. Terminou o problema? Não! Se a empresa não fez o turnaround e a geração de caixa é menor do que o novo custo da dívida já negociado, voltam para o Tempo #1.
Esta empresa irá quebrar. Por outro lado, se o turnaround está em curso e a empresa não perde a mão, tem muitas chances de sobreviver no longo prazo. Uma mudança que é comum encontrar, é a troca dos executivos ao longo desse caminho. É muito difícil mudar a maneira de pensar e agir. As pessoas tendem olhar para o passado e a se agarrar às crenças que levaram ao problema.