Socorro a aéreas será fechado com Fazenda após carnaval, diz ministro de Portos e Aeroportos
Texto comentado por Bruno de Queiroz - Diretor Executivo da Galeazzi & Associados
O mercado de aviação é, sabidamente, altamente dependente de capital em qualquer lugar do mundo. Além disso, esse segmento é um dos que apresenta maiores volatilidades quando se trata de rentabilidade do negócio, especialmente no Brasil, onde as companhias estão expostas à variação cambial.
Não por acaso, nos últimos anos, vimos várias companhias aéreas que operam no Brasil precisarem recorrer à recuperação judicial para reestruturar suas operações, casos da Avianca, Latam e agora a Gol.
Essa notícia veiculada pela InfoMoney mostra que o governo vem discutindo um eventual socorro às cias aéreas, o qual deve ser fechado no pós-carnaval, com um financiamento considerável do BNDES.
No meu ponto de vista contratar mais dívida não parece o caminho mais adequado. O problema é bem mais complicado e tem relação com aspectos operacionais, que, em última instância, afetam a rentabilidade das companhias.
A solução precisa envolver diversos pontos, e trago aqui a minha visão sobre alguns temas que podem ser parte de uma solução.
O governo, em tese, deveria se preocupar em garantir um ambiente regulatório mais adequado e coerente com o momento atual do setor. Um exemplo é a obrigação das companhias aéreas operarem voos sabidamente deficitários apenas para manter seu direito aos slots concedidos.
Após a pandemia, é evidente a diminuição da demanda por voos, especialmente os corporativos, em trechos com alta frequência, como a ponte aérea. Qualquer um que frequenta aeroportos atualmente percebe isso e nota um alto volume de cancelamento de voos, que obviamente devem estar com baixa capacidade.
Porque, então, a ANAC não opta por revisar a resolução 682 e flexibilizar as regras de manutenção de slots, permitindo que as companhias adequem sua oferta à real demanda?
Isso permitiria uma utilização mais racional de aeronaves, de equipes de solo, de equipes de voo, bem como ajustes nas estruturas de venda de passagens, entre outros. Pode até ser que, com uma oferta ajustada, houvesse alguma acomodação nos preços praticados.
Adicionalmente, há também o fato de serem altamente questionáveis algumas decisões meramente políticas (vide restringir voos no Santos Dumont para tentar viabilizar o Galeão, o que também afeta as relações econômicas das empresas) e esta nova proposta de criar passagens aéreas a R$200 para aposentados e pensionistas.
A última, apesar de louvável, apenas trará mais desequilíbrio à matriz econômica das empresas, fazendo com que os demais passageiros paguem por esse subsídio. A conta simplesmente não fecha.
Acredito que deveríamos estar discutindo formas de melhorar o ambiente de negócios dos setores da nossa economia, ao invés de pensar de que forma vamos alavancar mais as empresas, com dinheiro público, sem que tenhamos sustentabilidade financeira em suas operações.
Me parece um convite para (mais) uma crise futura.
Espero que essa discussão faça você refletir sobre o assunto.
(Fonte: Infomoney, 2024)